domingo, 18 de julho de 2010

Obrigada, Allen Ginsberg


Depois das chateações da semana, surgiu-me um poema quase que por acaso.

O poeta é o Allen Ginsberg, que eu acabei de conhecer ao descobrir que ele estava no meio das Revoltas dos Yippies (do Abbie Hoffman). Ele foi da geração beat, expoente da contracultura... um mestre, com poemas longos e eloquentes.

Entretanto, no meio de poemas-"prosa", há o poema "Canção", o qual tocou minha alma e acalmou meu desavisado coração:


CANÇÃO


O peso do mundo

é o amor.

Sob o fardo

da solidão,

sob o fardo

da insatisfação

o peso

o peso que carregamos

é o amor.

Quem poderia negá-lo?

Em sonhos

nos toca

o corpo,

em pensamentos

constrói

um milagre,

na imaginação

aflige-se

até tornar-se

humano -

sai para fora do coração

ardendo de pureza -

pois o fardo da vida

é o amor,

mas nós carregamos o peso

cansados

e assim temos que descansar

nos braços do amor

finalmente

temos que descansar nos braços

do amor.

Nenhum descanso

sem amor,

nenhum sono

sem sonhos

de amor -

quer esteja eu louco ou frio,

obcecado por anjos

ou por máquinas,

o último desejo

é o amor

– não pode ser amargo

não pode ser negado

não pode ser contigo

quando negado:

o peso é demasiado

– deve dar-se

sem nada de volta

assim como o pensamento

é dado

na solidão

em toda a excelência

do seu excesso.

Os corpos quentes

brilham juntos

na escuridão,

a mão se move

para o centro

da carne,

a pele treme

na felicidade

e a alma sobe

feliz até o olho -

sim, sim,

é isso que

eu queria,

eu sempre quis,

eu sempre quis

voltar

ao corpo

em que nasci.